Mário Centeno afasta candidatura à Presidência da República
Na entrevista o Governador disse ainda que todos os salários do BdP têm um enquadramento definido pelo Acordo Coletivo de Trabalho.
O Governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, disse esta quarta-feira na Grande Entrevista à RTP3 que “não vou ser candidato [à Presidência da República]. Não está no meu horizonte. É uma decisão pessoal, tomada no meu círculo pessoal, no círculo da minha família, da visão que tenho de mim mesmo e do que quero fazer no futuro”.
A reta final do primeiro mandato à frente do Banco de Portugal, que acaba em julho deste ano, tem criado rumores de que é nome mais bem posicionado da esquerda para chegar ao Palácio de Belém.
Centeno rejeitou ainda que a sua independência como Governador tenha sido posta em causa quando foi apontado para sucessor de António Costa, num cenário alternativo às eleições antecipadas. “A independência não é um estado de espírito, é capacidade de afirmar e analisar deforma autónoma, consciente e rigorosa as decisões que temos de tomar”, sublinhou.
Mário Centeno voltou a dizer que o seu foco é ser reconduzido para um segundo mandato. Mas “não está nas minhas mãos”, disse lembrando que desempenha as suas funções com esse objetivo.
A entrevista conduzida por Vítor Gonçalves começou com a recusa do BdP em pagar o salário de Hélder Rosalino de secretário geral do Governo.
Centeno esclareceu que o BdP não pode pagar salários da Administração Pública, por ser contra a Lei Orgânica.
O enquadramento jurídico justifica a atuação do Banco de Portugal.
Os consultores do BdP ganham 15 mil euros, e isso foi questionado ao Governador que vai ao Parlamento justificar os salários.
Na entrevista o Governador disse que todos os salários do BdP têm um enquadramento definido pelo Acordo Coletivo de Trabalho.
A Comissão de Vencimentos é só para a Administração do BdP, explicou Centeno. Isto depois de ser conhecido que a comissão de vencimentos do Banco de Portugal (BdP) vai reunir-se a pedido do ministro das Finanças para avaliar as remunerações dos administradores do banco central.
A função de consultor da administração do BdP, só está acessível a diretores do banco central, alguns foram membros do Conselho de Administração, e quando deixam voltam a ser diretores. A função de consultor é “temporária”, explicou.
Recorde-se que o Banco de Portugal nomeou Hélder Rosalino para a Valora, empresa que imprime as notas.
Os salários dos consultores são salários da tabela salarial do Banco de Portugal, explicou o Governador que acrescentou que levam em conta a senioridade, a experiência, a carreira, e o papel que tiveram na instituição.
Isto porque Hélder Rosalino tem um ordenado bruto de 15 mil euros como consultor do BdP.
Mário Centeno revelou que no seu mandato o banco que teve o melhor resultado no teste de stress do BCE de 2023 foi um banco português. O Governador destacou ainda que os dois bancos que ficaram em primeiro lugar nos testes de resiliência do sistema europeu de Resolução bancária foram dois portugueses. O sistema bancário português está no Top5 na UE, frisou.
Sobre a sua previsão de crescimento económico, que fica abaixo doutras instâncias. O boletim do Banco de Portugal (BdP), do fim de 2024, apontou para um crescimento de 1,7% nesse ano e 2,2% este ano.
A média das previsões para a economia portuguesa é de um crescimento de 2,1%, acima da estimativa das Finanças, que é de 2%. Estas médias já incluem o mais recente boletim do Banco de Portugal (BdP), que aponta para um crescimento de 1,7% em 2024 e 2,2% em 2025.
“A economia nacional está inserida no contexto europeu que está, ele próprio, em desaceleração”, explicou.
O Banco de Portugal aponta para um défice de 0,1% do PIB em 2025 e uma forte deterioração nos anos seguintes. O primeiro-ministro veio dizer que considera “um pouco insólito prever défice de 0,1%”.
“A dinâmica que há neste momento na despesa é difícil de reverter, porque são despesas permanentes”, defendeu Centeno na entrevista.
A despesa com as prestações sociais ascende a 700 milhões de euros, frisou.
“Um saldo orçamental nulo neste momento é, na minha opinião, pouco exigente”, defendeu o Governador que sublinhou que o papel do banco central é de aconselhamento.
“Estamos todos a remar no mesmo sentido”, reforçou.
A política económica tem de ser contracíclica e ganhar almofadas para reagir às crises, defendeu Centeno.
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