Entenda o que está em jogo na briga do Wordpress

Quando você pensa em WordPress, a ideia de um ecossistema colaborativo é uma das primeiras coisas que vem à mente. Mas, por trás de toda esta bem sucedida história de open source, uma disputa interna vem ameaçando abalar as estruturas da plataforma, usada par...

Jan 20, 2025 - 12:57
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Entenda o que está em jogo na briga do Wordpress

Quando você pensa em WordPress, a ideia de um ecossistema colaborativo é uma das primeiras coisas que vem à mente. Mas, por trás de toda esta bem sucedida história de open source, uma disputa interna vem ameaçando abalar as estruturas da plataforma, usada para administrar 40% das páginas da Internet 

A Automattic, empresa criada para fazer a manutenção da plataforma por por Matt Mullenweg, um dos cofundadores do WordPress, está no centro de uma polêmica com a WP Engine, uma das principais empresas que fornecem soluções de hospedagem para sites WordPress.

A briga envolve questões de poder, controle de mercado e princípios de open source, e tem atraído a atenção de desenvolvedores e usuários ao redor do mundo.

Por que esta briga está chamando tanto a atenção?

Este embate não é trivial, pois ele carrega implicações profundas para toda a comunidade WordPress, gera dúvidas sobre o universo de código aberto e, consequentemente, para o mercado de tecnologia em geral. 

Além disso, com milhões de sites rodando na plataforma, qualquer mudança no ecossistema tem o potencial de impactar negócios, desenvolvedores e usuários finais.

O tom agressivo das declarações de Matt Mullenweg e as ações concretas da Automattic, como o controle do Advanced Custom Fields, um dos principais plug-ins da WP Engine, trouxeram uma nova dinâmica para o debate sobre os limites entre open source e mecanismos que possam servir a outros interesses. 

A empresa não apenas assumiu temporariamente o controle do ACF, mas também promoveu uma bifurcação do plug-in, rebatizando-o para alinhar-se com estratégias que beneficiam diretamente sua visão e objetivos corporativos. 

Esse movimento foi amplamente interpretado como um golpe estratégico para minar a influência da WP Engine no ecossistema. David Heinemeier Hansson, mais conhecido como @DHH, defensor do software open source e criador do Ruby on Rails, criticou publicamente a postura da Automattic. Para ele, a bifurcação do ACF e sua posterior renomeação representam uma apropriação corporativa que mina a confiança na governança comunitária e prejudica o equilíbrio entre o poder empresarial e a colaboração aberta.

A decisão também dividiu a comunidade, levantando preocupações sobre a neutralidade e o equilíbrio no desenvolvimento de ferramentas críticas do WordPress. Muitos temem que movimentos similares possam estabelecer um precedente perigoso para projetos open source no futuro.

Além de um embate de princípios e interesses

O ponto de partida da disputa foi o uso da marca WordPress. A Automattic tem se mostrado cada vez mais rigorosa na defesa de seus direitos sobre o nome, chegando a enviar notificações de cease-and-desist contra a WP Engine por supostas infrações ao uso do termo. Para Matt Mullenweg, proteger a marca é essencial para manter a qualidade e integridade do ecossistema. “A WP Engine é um câncer para o WordPress”, disse Mullenweg, em um tom que elevou a tensão.

Por outro lado, a WP Engine e outros membros da comunidade argumentam que essa postura vai contra o espírito colaborativo do open source. Jason Cohen, fundador da WP Engine, classificou as ações da Automattic como abusivas e incoerentes com os valores históricos do projeto.

Para tornar ainda mais complexo a situação, a WP Engine foi banida de recursos essenciais do WordPress.org, como o acesso a repositórios. No entanto, uma decisão judicial, de dezembro de 2024, reverteu essa situação, restabelecendo o acesso da WP Engine aos repositórios e outros recursos da plataforma. A medida foi celebrada por muitos como uma vitória para o equilíbrio e a neutralidade no ecossistema do WordPress.

E o futuro do Wordpress?

O embate entre a Automattic e a WP Engine expõe as fragilidades de um modelo que tenta equilibrar colaboração comunitária com interesses corporativos. Joost de Valk, ex-CEO de um dos plug-ins mais populares de SEO, propôs uma abordagem federada para o repositório WordPress, sugerindo maior independência das ferramentas dentro do ecossistema.

Matt já reconheceu publicamente que uma bifurcação do projeto principal seria “fantástico” para o ecossistema, destacando que tal movimento pode incentivar modelos mais democráticos de governança e promover inovação compartilhada, sem comprometer o espírito do open source.

Conforme relatado por Matt Mullenweg, o WordPress 6.7 contou com 600 colaboradores — apenas 10% deles da Automattic — e já acumulava mais de 40 milhões de downloads em pouco mais de um mês de lançamento. Esses números destacam não apenas a força da comunidade, mas também a necessidade de um diálogo construtivo para resolver os desafios do ecossistema.

Alguns dizem até sobre oportunidades para novos players a partir de uma migração de desenvolvedores insatisfeitos e inseguros com toda esta novela com final ainda incerto.

Inevitavelmente, o desfecho dessa disputa, marcado por tensões e interesses divergentes, promete influenciar significativamente os rumos do WordPress. O que está por vir tem o potencial de transformar drasticamente os rumos de um ecossistema bilionário e essencial para a internet e muito provavelmente os próximos passos sinalizarão melhor o caminho que está se pavimentando.

* Eduardo Bona é desenvolvedor web desde 2004, cofundador e CTO da Vivaworks.

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