Startups brasileiras dominam captação de investimentos na América Latina

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Startups brasileiras dominam captação de investimentos na América Latina

*Por Fernando Nery

O cenário de investimentos em startups na América Latina em 2024 apresentou sinais de recuperação, embora ainda esteja distante dos picos históricos observados em 2021 e no início de 2022. De acordo com dados do CrunchBase, a região captou US$ 4,2 bilhões em rodadas de seed até estágio de crescimento, representando um aumento de 27% em relação ao ano anterior. Esses dados destacam a resiliência do ecossistema empreendedor na região, mesmo em um contexto de incertezas econômicas globais.

O Brasil, mantendo sua posição de liderança, foi responsável por cerca de metade de todo o financiamento destinado à América Latina no ano, se consolidando como o principal hub de inovação da região. Esse desempenho expressivo reflete a maturidade do mercado nacional, que abriga algumas das startups mais valiosas do continente, além de uma infraestrutura de venture capital mais robusta. Em segundo lugar aparece o México, com cerca de 20% do investimento total, seguido por Argentina, Colômbia e Chile.

Apesar do aumento no financiamento geral, os números mostram flutuações nos investimentos por estágio ao longo do ano. No quarto trimestre de 2024, o financiamento em estágio final atingiu seu ponto mais alto em cinco trimestres, impulsionando os números totais. Por outro lado, os aportes em estágio inicial (early stage) tiveram seu melhor desempenho no primeiro trimestre, mas apresentaram enfraquecimento nos períodos seguintes. Isso indica uma tendência de maior cautela por parte dos investidores em relação a negócios ainda em fases iniciais de desenvolvimento.

Esse panorama sugere uma mudança de comportamento no mercado de venture capital (VC), em que os financiadores estão priorizando empresas mais maduras, com maior potencial de retorno e menor risco. Apesar desta postura ser compreensível, ela pode limitar a entrada de novas startups no mercado, reduzindo a diversidade e a inovação no longo prazo. É um alerta para que empreendedores em estágio inicial busquem diversificar suas fontes de financiamento, apostando em alternativas como investidores-anjo e crowdfunding.

Além disso, não podemos deixar de mencionar o crescimento das aplicações em estágios avançados, que reflete uma maior consolidação de startups que já passaram pela fase crítica de validação de mercado. Isso fortalece o ecossistema como um todo, pois essas empresas maduras têm maior capacidade de atrair talentos, escalar operações e atrair ainda mais capital para a região. Para os países latino-americanos, este é um momento estratégico para criar políticas públicas que incentivem o desenvolvimento de startups em todas as fases, garantindo um pipeline contínuo de inovação.

A recuperação do financiamento na América Latina é um sinal positivo, mas também deixa claro que há uma necessidade de equilíbrio entre capital para estágios iniciais e finais. A região tem demonstrado potencial para atrair investimentos, mas ainda precisa lidar com desafios estruturais para manter o crescimento sustentável. Nesse contexto, o Brasil se destaca não apenas como líder em captação, mas como referência para fortalecer o ecossistema.

* Fernando Nery é CEO da Portão 3 (P3)

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