Os labregos

(Elon Musk's Full Speech At Trump's Presidential Parade) No passado 26 de Abril fui à Gulbenkian ver a Eroica, a 3a de Beethoven, executada pela orquestra local - um amigo oferecera-me o seu par de bilhetes, indisponível que estava para assistir. A sessão foi iniciada pela estreia de "Restart", peça do compositor português Nuno da Rocha. Terminada esta o autor foi chamado ao palco, para recolher os (mansos) aplausos. Lá chegou, cravo vermelho ao peito - a efeméride a isso convidava -, e para nos agradecer levantou o punho direito, na saudação comunista. Logo interrompi os meus (mansos, repito) aplausos, abandonando-me num ror de inaudíveis impropérios (assim poupando a senhora que me acompanhava), invectivando o autor devido aos seus vícios anais, a sofreguidão bocal, a ninfomania da esposa, a materna comercialização sexual e quejandas características que decerto são essencias ao mariola. Seguiu-se uma breve peça de outrem e um intervalo. Neste reuniu-me a roda de amigos, em torno de uma garrafa de aprazível vinho branco, logo tendo recebido a canónica "gostaste?". A qual me serviu para extroverter a minha ira - em léxico mais curial -, até para espanto dos meus convivas, quedos num condescendente "o homem tem direito às suas ideias...". Ao que eu, quase desvairado, ripostei "com toda a certeza que o tem. Mas não de vender um produto e depois, "à traição", e com todo o despropósito, convocar os clientes para a sua vil ideologia". Ao que aquiesceram os meus amigos, um tendo tentado acalmar-me num "pede o livro de reclamações, era bem gizado..", algo a que me neguei, pois não era assunto da responsabilidade da instituição, era malandragem do contratado. Ontem foi a tomada de posse do presidente Trump, assunto mais relevante para a actualidade do que a enésima Eroica ou uma esquecível peça musical contemporânea. Trump vem com medidas que são lá para eles, umas risíveis, quais chamar Praça Sá Carneiro ao Areeiro ou Aeroporto Humberto Delgado ao da Portela. Outras mesmo internas, como refrear a imigração ou estancar as práticas comerciais ditas de "género" da biomedicina capitalista. E outras bem mais gerais, globais diz-se, como "perfurar como uns loucos" e abandonar os (já de si pífios) tratados ambientais. Tendo ainda dito que foi Deus Nosso Senhor que lhe poupou a vida para que ele conduza estas políticas todas, argumento que presumo não seja muito palpável para os católicos contemporâneos (mas isto nunca se sabe, que "ele há cada um"...). Há por cá - só o deus protector dos imbecis saberá porquê - gente muito empenhada, partidária até, nas eleições americanas, como se aquilo fosse coisa nossa. Alguns adoram Trump, outros apenas muito o apreciam, e sobre isso peroram, tal como aqueles que são "democratas desde pequeninos". Ontem fui almoçar em trio, o amigo que me levou ao destino é uma jóia de um homem, admirável, e um reaccionário daqueles "à direita do CHEGA" - como ele próprio diz. Na estrada, já a sul do Tejo, fui-lhe pedindo para não levantar o assunto trumpiano ao almoço, pois mesmo sendo nós - os outros dois - conhecidos como "de direita" não temos paciência para aquela tralha. Lá se almoçou, no bom ambiente de amigos íntimos. Atafulhavam-se eles com grandes postas de bacalhau à minhota e eu, já comida a minha sopinha (ando muito frugal pois a saúde está, finalmente, a dar de si...), fui lá fora esfumaçar ao frio. Quando voltei à mesa percebi que o sacaninha do mais-velho já tinha conseguido estabelecer a deriva trumpiana. Sentei-me e interrompi num cavo "foda-se, caralho...", perfeitamente curial entre homens que são amigos íntimos. Assim inflectindo o rumo da conversa. Hoje vejo que ontem no comício celebratório da nova presidência o Citizen Musk fez a saudação nazi. Há, cá no burgo, muitos adeptos desta gente - desses que abominam a "europa", que vêm como sinónimo de "burocracia" totalitária e de indeterminação das pilinhas e dos pipis - que repetem ter Trump o hábito de dizer coisas em que não pensa, nem fará, assim insignificantes. Via na qual acolherão este facto, di-la-ão mera e insignificante excitação muskiana. São uns labregos. Alguns são drs. labregos.

Jan 21, 2025 - 12:37
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Os labregos

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No passado 26 de Abril fui à Gulbenkian ver a Eroica, a 3a de Beethoven, executada pela orquestra local - um amigo oferecera-me o seu par de bilhetes, indisponível que estava para assistir. A sessão foi iniciada pela estreia de "Restart", peça do compositor português Nuno da Rocha. Terminada esta o autor foi chamado ao palco, para recolher os (mansos) aplausos. Lá chegou, cravo vermelho ao peito - a efeméride a isso convidava -, e para nos agradecer levantou o punho direito, na saudação comunista. Logo interrompi os meus (mansos, repito) aplausos, abandonando-me num ror de inaudíveis impropérios (assim poupando a senhora que me acompanhava), invectivando o autor devido aos seus vícios anais, a sofreguidão bocal, a ninfomania da esposa, a materna comercialização sexual e quejandas características que decerto são essencias ao mariola. Seguiu-se uma breve peça de outrem e um intervalo. Neste reuniu-me a roda de amigos, em torno de uma garrafa de aprazível vinho branco, logo tendo recebido a canónica "gostaste?". A qual me serviu para extroverter a minha ira - em léxico mais curial -, até para espanto dos meus convivas, quedos num condescendente "o homem tem direito às suas ideias...". Ao que eu, quase desvairado, ripostei "com toda a certeza que o tem. Mas não de vender um produto e depois, "à traição", e com todo o despropósito, convocar os clientes para a sua vil ideologia". Ao que aquiesceram os meus amigos, um tendo tentado acalmar-me num "pede o livro de reclamações, era bem gizado..", algo a que me neguei, pois não era assunto da responsabilidade da instituição, era malandragem do contratado.

Ontem foi a tomada de posse do presidente Trump, assunto mais relevante para a actualidade do que a enésima Eroica ou uma esquecível peça musical contemporânea. Trump vem com medidas que são lá para eles, umas risíveis, quais chamar Praça Sá Carneiro ao Areeiro ou Aeroporto Humberto Delgado ao da Portela. Outras mesmo internas, como refrear a imigração ou estancar as práticas comerciais ditas de "género" da biomedicina capitalista. E outras bem mais gerais, globais diz-se, como "perfurar como uns loucos" e abandonar os (já de si pífios) tratados ambientais. Tendo ainda dito que foi Deus Nosso Senhor que lhe poupou a vida para que ele conduza estas políticas todas, argumento que presumo não seja muito palpável para os católicos contemporâneos (mas isto nunca se sabe, que "ele há cada um"...).

Há por cá - só o deus protector dos imbecis saberá porquê - gente muito empenhada, partidária até, nas eleições americanas, como se aquilo fosse coisa nossa. Alguns adoram Trump, outros apenas muito o apreciam, e sobre isso peroram, tal como aqueles que são "democratas desde pequeninos". Ontem fui almoçar em trio, o amigo que me levou ao destino é uma jóia de um homem, admirável, e um reaccionário daqueles "à direita do CHEGA" - como ele próprio diz. Na estrada, já a sul do Tejo, fui-lhe pedindo para não levantar o assunto trumpiano ao almoço, pois mesmo sendo nós - os outros dois - conhecidos como "de direita" não temos paciência para aquela tralha. Lá se almoçou, no bom ambiente de amigos íntimos. Atafulhavam-se eles com grandes postas de bacalhau à minhota e eu, já comida a minha sopinha (ando muito frugal pois a saúde está, finalmente, a dar de si...), fui lá fora esfumaçar ao frio. Quando voltei à mesa percebi que o sacaninha do mais-velho já tinha conseguido estabelecer a deriva trumpiana. Sentei-me e interrompi num cavo "foda-se, caralho...", perfeitamente curial entre homens que são amigos íntimos. Assim inflectindo o rumo da conversa.

Hoje vejo que ontem no comício celebratório da nova presidência o Citizen Musk fez a saudação nazi. Há, cá no burgo, muitos adeptos desta gente - desses que abominam a "europa", que vêm como sinónimo de "burocracia" totalitária e de indeterminação das pilinhas e dos pipis - que repetem ter Trump o hábito de dizer coisas em que não pensa, nem fará, assim insignificantes. Via na qual acolherão este facto, di-la-ão mera e insignificante excitação muskiana.

São uns labregos. Alguns são drs. labregos.

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