Fortune's Run, o jogo “abandonado” porque sua criadora será presa
Atualmente disponível como em Acesso Antecipado, Fortune's Run terá seu desenvolvimento interrompido porque sua criadora foi condenada a três anos de prisão Fortune's Run, o jogo “abandonado” porque sua criadora será presa
Quando um jogo é disponibilizado como em Acesso Antecipado, uma das principais curiosidades/preocupações de quem pretende adquiri-lo é como será o seu fluxo de atualizações. Com o Fortune's Run isso também aconteceu, mas agora os interessados sabem que demorará um bom tempo até o título receber melhorias — e por um motivo bastante inusitado.
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Lançado no Steam em setembro de 2023, das 445 análises feitas por quem já jogou o Fortune's Run, 92% foram positivas. Parte dessa aceitação se deve ao interessante sistema de combate corpo-a-corpo, uma direção artística muito bonita e o atual estado de desenvolvimento, consideravelmente avançado.
O que ninguém poderia esperar foi a publicação feita recentemente pela sua criadora, alguém conhecida apenas como Dizzie. Ela começou sua declaração afirmando que atualmente é a única pessoa dedicada a produzir o Fortune's Run, para depois dizer o seguinte:
“Primeiro de tudo, tenho algumas coisas acontecendo que preciso tornar públicas, pois isso vai interromper o desenvolvimento. Fui condenada à prisão pelos próximos três anos. É uma longa história, mas vivi uma vida diferente antes de ser um desenvolvedora de jogos, e não estava a vivendo bem. Meu caso tem cerca de cinco anos agora, passei pelo processo legal o tempo todo em que trabalhei no jogo. Finalmente fui considerada culpada e condenada, e irei embora no mês que vem. É uma pena, mas são as consequências das minhas ações. Fui uma pessoa muito violenta e machuquei muitas pessoas em minha vida. Infelizmente, a sentença não vai ajudar em nada, mas acho que todos nós sabemos disso.”
Na sequência, a game designer garantiu que o projeto não está totalmente morto, mas outro problema fará com que ele seja interrompido por pelo menos até que cumpra sua pena. Acontece que a outra pessoa envolvida na criação, que por sinal é sua esposa, ficou doente e após passar por uma cirurgia malsucedida, ela decidiu não continuar trabalhando no Fortune's Run.
Segundo Dizzie, sua parceira estava responsável por cuidar do controle de qualidade do jogo, bem como de trechos de alguns níveis. Logo, devido à desistência dessa pessoa, a carga de trabalho caiu sobre suas costas e para tentar deixar o máximo pronto antes de ir para prisão, a solução teria sido passar a dormir o mínimo possível.
“Desde que decidimos nos separar, o desenvolvimento será completamente interrompido até que eu seja solta,” explicou. “Sei que muitos de vocês ficarão chateados e desapontados, mas por favor, entenda que não há absolutamente nada que eu possa fazer, essas rodas estavam girando muito antes de começar a fazer esse jogo e ele estava se desfazendo lentamente na minha cara o tempo todo.”
Além disso, a autora afirma que seu problema com a justiça aconteceu antes de conhecer a outra desenvolvedora, portanto ela não teria qualquer relação com isso. Ela também esclareceu não ter cometido um crime de cunho sexual e que tudo que precisamos saber é que fez algo errado.
Para tentar tranquilizar quem apostou no Fortune's Run, a game designer disse que atualmente não está em má situação financeira, justamente porque o jogo vendeu bem. Assim, quando sair da cadeia ela poderá pagar um aluguel e aqueles que esperarem esses anos poderão ver o projeto ser concluído. “Na verdade, não há muito conteúdo para ser trabalhado, tenho feito esboços e protótipos das fases que faltam no meu tempo livre,” afirmou.
Dizzie também afirmou ser completamente apaixonada pela criação de jogos e que nunca deixará de fazê-los. Logo, seu plano atualmente é terminar o Fortune's Run, mesmo reconhecendo que devido sua condição atual, não sabe o que acontecerá no futuro.
“Obrigado [...] às pessoas que nos deram seu dinheiro para nos tirar da escuridão e nos colocar no melhor trabalho que alguém poderia ter, para contar histórias incríveis, escrever códigos malucos, desenhar coisas lindas e gravar músicas doces o dia todo, do momento em que acordo até cair no sono,” concluiu, dizendo ainda que aqueles que contribuíram comprando o jogo não sabem o impacto que tiveram na vida dela. “Eu apenas queria uma chance para fazer algo bom [...] e fiz isso, pelo menos fiz um pouco e espero que todos tenham gostado.”
Na página da publicação é possível ver diversas mensagens de apoio à desenvolvedora, apesar de alguns ataques e acusações, o que não surpreende. Como dito em um dos comentários, ao comprarmos um jogo estamos levando um produto, não contratando um funcionário, então a justiça que lhe dê a punição que considera adequada.
Da parte de Dizzie, chama a atenção sua aparente franqueza e capacidade de assumir seus erros. Ela poderia simplesmente ter desaparecido, interrompendo as vendas de seu jogo ou simplesmente passado a impressão de que foi abandonado. Contudo, a desenvolvedora preferiu contar sua história e justificar porque o projeto passará por um longo período sem atualizações.
Após tantos anos cobrindo a indústria de videogames, essa é certamente uma das histórias mais inusitadas que tive conhecimento. Se Dizzie realmente se arrepende (ou se arrependerá) do crime que cometeu, não cabe a mim julgar, mas estou curioso para ver o que acontecerá com o Fortune's Run daqui a alguns anos. Curiosamente, talvez ele ainda seja concluído num tempo menor que muitos títulos que passaram pelo programa de Acesso Antecipado oferecido pela Valve.
Nota: em setembro de 2023 o Team Fortune publicou uma mensagem falando sobre o adiamento do jogo e o motivo seria o tema do Fortune's Run. A nota dizia:
“A jornada do nosso protagonista é motivada por um evento traumático passado envolvendo agressão sexual. Por esse motivo, escolhemos divulgar tanto no jogo quanto na página da loja que havia conteúdo adulto e que o jogador teria permissão para optar por não receber referências diretas. As referências diretas incluem, na versão atual do Acesso Antecipado, uma sequência em que o jogador vê um de seus agressores fazendo o ato da perspectiva de primeira pessoa.”
Segundo a autora, a intenção era retratar o ato de maneira nojenta e revoltante, ao contrário de muitos jogos, que segundo ela, glorificam esse tipo de crime.
Nota 2: ao contrário do que foi informado erroneamente no texto num primeiro momento, Dizzie é uma desenvolvedora, não um desenvolvedor.
Fonte: PCGamesN
Fortune's Run, o jogo “abandonado” porque sua criadora será presa
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